domingo, 25 de setembro de 2011

RED HOT CHILI PEPPERS NO ROCK IN RIO - 24/09/2011

Falar sobre os Red Hot Chili Peppers é algo complicado. Quando se trata de uma das poucas bandas americanas que podem ser consideradas realmente influentes na cena musical mundial desde a era pós-punk, qualquer expectativa adquire proporções gigantescas. Quem nasceu na década de 90 e conheceu os Peppers no início/metade da década de 2000 pode ter uma visão completamente diferente dos fãs que acompanham a banda há mais tempo e ficaram decepcionados com a apresentação da banda na Cidade do Rock em 2001 (som fraco, banda aparentemente sem motivação, frescura do Frusciante em não tocar as ótimas músicas gravadas pelo Navarro, etc.).


Mesmo com os ótimos DVDs lançados durante a última década, essa displicência no RIR 3 me fez ficar com um pé atrás quando se trata de RHCP ao vivo (ao vivo de verdade, não com as possíveis correções feitas em DVDs e afins), portanto pode ser que minha visão sobre o show de ontem seja diferente da de muita gente, mas um fato é inegável: as músicas de Stadium Arcadium e I'm With You soam fracas, menores e repetitivas quando comparadas às dos monstruosos álbuns das décadas de 80 e 90. By the Way já apresentava algumas músicas abaixo do nível costumeiro de qualidade dos caras , mas ainda assim é um ótimo disco. 

Sobre o show, a apresentação foi competentíssima. Chad moeu a bateria, como de costume, dando uma aula de divisão rítmica. O batera, inclusive, fez um solo muito legal junto com o percussionista brasileiro Mauro Refosco, que também participou das gravações do decepcionante I'm With You, lançado há cerca de um mês. Flea é o mico-sagui de sempre: pula, corre, sacode, abaixa e, acima de tudo, toca uma barbaridade. Não é exagero nenhum falar que o baixista é um dos mais influentes da história. Extremamente criativo, energético e virtuosíssimo, ele é o corpo, a alma e o sangue do RHCP. O vocalista Anthony Kiedis esteve bem ontem: cantou todas perfeitamente e agitou bastante o público. O único senão ficou por conta do guitarrista Josh Klinghoffer, substituto do ídolo John Frusciante. Em algumas músicas, ele colocou mais notas do que devia e, na minha opinião, pecou em algumas escolhas de timbres (em Around the World, principalmente). Por estar tocando músicas majoritariamente calcadas na parte rítmica, é essencial aderir ao lema dos músicos conscientes: "menos é mais." Apesar disso, é evidente que trata-se de um grande músico, caso contrário não teria sido convidado para integrar uma banda desse porte. O problema principal não é Josh, e sim John e sua marca característica nas músicas maravilhosas que deixou como legado. As comparações são inevitáveis (e tristes).


Com dez álbuns de estúdio lançados, elaborar um repertório de dezoito músicas com tanta coisa boa para ser selecionada parece ser um trabalho dificílimo, mas a impressão que tenho é que eles gostam de complicar. Primeiramente, festival não é lugar para experiência. O repertório deveria ter muito material conhecido e poucas surpresas. Infelizmente, quase metade das músicas (sete) foi dos últimos dois discos, (destaques positivos apenas para Look Around, que funcionou bem, e para o hit Dani California), eliminando do set músicas interessantíssimas de The Uplift Mofo Party Plan, Mother's Milk, Blood Sugar Sex Magik, One Hot Minute e até um sucesso óbvio de Californication (a ótima Scar Tissue). Os destaques ficaram por conta de Otherside (cantada em uníssono), o excelente cover de Stevie Wonder Higher Ground, Can't Stop e o bis com Around the World, a fantástica Blood Sugar Sex Magik e o sucesso do começo da década de 90 Give It Away. Outro destaque foi a homenagem ao fã Rafael Mascarenhas (o rosto do rapaz estava estampado nas camisetas que usaram no bis), jovem que morreu atropelado por um carro que participava de um racha enquanto andava de skate ano passado na cidade do Rio de Janeiro. O motorista, que não prestou socorro e pagou propina a policiais para não ser preso em flagrante, ainda não foi julgado.


É inegável que a sonoridade da banda mudou. Aliás, a sonoridade das bandas, de uma forma geral, muda. As pessoas envelhecem, passam por experiências constantes, buscam coisas novas e mudam. Entretanto, uma coisa que não pode faltar no RHCP é sua marca característica: criatividade. Nos últimos dois discos, eles gravaram praticamente a mesma coisa, o que é decepcionante se considerarmos o potencial desses caras como músicos e compositores. E lotar o show com músicas repetitivas, mesmo que executadas com maestria, é algo que a mim, fã de longa data, não chega nem perto de agradar. Quero deixar claro que não acho que bandas que gravam há várias décadas devem viver de passado. Sou contra isso, mas deve haver equilíbrio. Tocar três músicas de Mother's Milk e Blood Sugar Sex Magik juntos, duas de Californication e SETE de Stadium Arcadium e I'm With You é uma escolha sem pé nem cabeça! Ficou claro que a intenção é aderir à molecada que começou a acompanhá-los com Stadium.

Concluindo, faltou escolher melhor o que tocar, porque energia, competência na execução e domínio de palco não faltaram. Foi uma apresentação quase perfeita, não fosse a overdose de músicas mais recentes no repertório. Eles bem que me avisaram sobre essa "opção pela facilidade" em "Once you know you can never go back / You gotta take it on the otherside," mas não adianta. É pedir demais para quem cresceu ouvindo coisas excelentes escritas por eles mesmos. 

Abaixo segue uma foto do repertório de ontem escrito à mão. Só ficou faltando Pea, do disco One Hot Minute, que foi tocada e cantada por Flea.


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