sábado, 3 de setembro de 2011

A AMEAÇA QUE VEIO DO ESPAÇO (It Came From Outer Space, 1953)



Ano: 1953. Local: Estados Unidos. Passado recente: uma relativa vitória na Segunda Guerra Mundial e a revelação da existência de armas de destruição em massa que trouxe mais medo do que segurança para a população em geral. Medos: 1) possível dominação do inimigo: o estado comunista; 2) sofrer um ataque com as mesmas armas utilizadas a seu favor alguns anos atrás.

Medo era a palavra de ordem naqueles dias. Medo de ser subjugado, de ser exterminado, de sentir o poder escorrer pelos vãos dos dedos e, assim como o de serem atacados com armas atômicas, as quais boa parte da população acreditava ser de origem extraterrestre, os americanos temiam, acima de tudo, o desconhecido. Chegar a essa conclusão não era algo que exigia nenhum tipo de estratagema avançado. Analisando friamente os fatos, podemos concluir que tudo o que os americanos temiam era algo que havia sido embutido em suas mentes. As pessoas temiam o desconhecido - algo com o qual nunca haviam tido contato, mas que temiam profundamente devido, entre outros fatores, a uma propaganda política bem feita.



Foi no meio desse medo generalizado que A Ameaça que Veio do Espaço foi lançado em 1953. Considerando todos os questos citados acima, fica fácil supor que qualquer filme que tivesse como enredo uma invasão alienígena lotaria salas de cinema em todos os Estados Unidos e, consequentemente, em todos os países “aliados”. Felizmente, o filme não se tratava apenas de uma película feita às pressas com o intuito de capitalizar em cima da tensão que cortava o ar naquele início de década. A obra, lançada pela Universal, estúdio famoso pelos filmes de terror e suspense mais icônicos até então, tinha muito mais a oferecer do que pouco mais de uma hora de diversão vazia. Os elementos presentes no filme do diretor Jack Arnold (também diretor de O Monstro da Lagoa Negra e de O Incrível Homem que Encolheu) garantiriam a ele um lugar de destaque nas preferências de críticos e presença permanente em inúmeras listas de melhores filmes de ficção científica até hoje, quase sessenta anos após seu lançamento.



Partindo de uma história criada por Rick Bradbury e rodado em em preto-e-branco pelo diretor de fotografia Clifford Stine, o filme conta a história de John Putnam (Richard Carlson), um astrônomo amador que presencia a queda de um objeto não-identificado em uma região desértica perto da cidadezinha onde mora. Ao investigar a cratera aberta pela queda do objeto, John compreende que o que caíra não era um meteoro ou algo do tipo, mas uma nave extraterrestre.  Logo em seguida, um desmoronamento soterra a nave, tornando John  a única pessoa a ter testemunhado a nave no fundo da cratera e, consequentemente, fazendo dele um motivo de gozação para os moradores da cidade. Isso permanece até que coisas muito estranhas começam a acontecer e John consegue convencer o Xerife Warren (Charles Drake) de que seres alienígenas são os responsáveis pelas ocorrências.



Um ponto que merece destaque em A Ameaça que Veio do Espaço é a trilha sonora.  Composta a seis mãos (Irvin Gertz, Henry Mancini e Herman Stein), as músicas de fundo dispensam comentários. Alternando músicas orquestradas e o uso pontual do instrumento theremin, principalmente nas cenas onde os moradores são atacados pelos alienígenas, o espectador é colocado no clima adequado em cada cena, o que faz com que o suspense seja devidamente acentuado. O som gerado pelo theremin é tenso e seus tons agudos foram uma das principais características das trilhas sonoras dos clássicos de ficção científica da década de 50, como em O Dia em que a Terra Parou (The Day The Earth Stood Still, de 1951, com trilha assinada por Bernard Hermann) e Guerra Entre Planetas (This Island Earth, de 1955, com trilha de Henry Mancini, Hans J. Salter e Herman Stein, os quais não foram creditados).



Uma das coisas que me atraem em filmes de ficção científica, terror e suspense é o chamado “terror psicológico”, aquilo que você percebe, ouve, antecipa, mas demora a ver na tela, e isso é uma das melhores coisas de A Ameaça que Veio do Espaço. Os alienígenas aparecem apenas em determinadas ocasiões, o que valoriza suas aparições nas cenas e adiciona tensão ao desenvolvimento da história. Nada é exibido de forma gratuita ou forçada e, mesmo sendo um filme curto, com menos de 80 minutos, o objetivo desse sci-fi thriller é atingido com perfeição. Outro ponto de destaque é a existência de cenas nas quais podemos acompanhar o ponto de vista dos próprios alienígenas, uma novidade na época e um efeito que se mantem interessante até hoje.

Finalizando, mesmo após quase seis décadas após seu lançamento, A Ameaça que Veio do Espaço possui uma mensagem subliminar atualíssima: a necessidade da aceitação do diferente e da busca incessante por conhecimento, evitando, assim, a demonização ignorante do que não conhecemos. Uma obra atemporal que merece ser vista e revista sempre.

A tempo, é necessário dizer que A Ameaça que Veio do Espaço foi o primeiro filme de ficção científica a ser lançado em 3D nos cinemas no formato 3D anaglífico. Como a cópia que possuo do filme é a versão 2D comum para home video, não me aprofundei nesse quesito por não ter tido a oportunidade de experimentá-lo, mas é possível observar vários ângulos de câmera que favoreceriam o formato 3D e destacariam certos elementos.

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