quinta-feira, 8 de setembro de 2011

INTOLERÂNCIA (Intolerance, 1916)


Dirigido por D. W. Griffith, o criador de inúmeras técnicas do cinema usadas até hoje, "Intolerância" se destaca dos outros filmes da época por sua ambição em contar quatro histórias distintas que se passam num período de 2500 anos. A única ligação que existe entre elas é o tema: a luta pela sobrevivência do amor (conforme indicado no subtítulo original "Love's Struggle Throughout the Ages"). O filme foi feito em resposta à obra anterior de Griffith, "O Nascimento de uma Nação", cujo teor extremamente racista foi criticado por inúmeras organizações que defendiam a inclusão social dos negros nos EUA. Em "Intolerância", Griffith arranja uma forma um tanto quanto dramática de mostrar o que acontece quando se tenta fazer prevalecer sua visão sobre a de outro.


As quatro histórias são interligadas por uma poética cena em que a atriz Lillian Gish (uma das preferidas do diretor) balança um berço com um olhar desolado, simbolizando a contínua disputa entre pessoas de diferentes ideologias. Os lugares e épocas retratados são: a Babilônia da Antiguidade, a Jerusalém da época de Cristo, a França no século XVI e a era contemporânea. Destacando-se de todas está a primeira história. Os monumentais cenários construídos a mão na Sunset Boulevard em Hollywood mantiveram o recorde de tamanho por muitos anos, e a trama não fica muito atrás. Detalhando a invasão da cidade por Ciro, rei da Pérsia, tem com protagonista uma jovem rebelde (Constance Talmadge) forçada por seu irmão a se casar. Ao ser liberada do compromisso pelo bondoso príncipe Belshazzar (Alfred Paget), se torna obcecada por ele, estando disposta a defender a cidade e sua honra. 


Na história da era contemporânea, Griffith volta a tratar do tema da "elevação" da sociedade, já defendida em "O Nascimento de uma Nação". Porém, dessa vez, foca naqueles que sofrem com ela, mostrando como uma organização hipócrita dedicada a esse fim afeta a vida de uma mulher (Mae Marsh) das formas mais cruéis, demitindo seu pai da fábrica onde trabalhava, junto com dezenas de funcionários em greve, e tirando seu filho de seus braços. Além disso, seu marido (Robert Harron) é preso por um crime que não cometeu e condenado à forca. Devido ao desenvolvimento de tantos acontecimentos trágicos, a história toma boa parte do tempo da película (que tem mais de 3 horas), e seus maiores méritos são as ótimas atuações e o timing preciso das cenas de ação.


No meio de tamanha exuberância de cenários e situações, sobra pouco espaço para que as outras duas histórias se desenvolvam. Em Jerusalém, acompanham-se momentos da vida de Jesus, como a transformação da água em vinho nas Bodas de Caná e sua crucificação. Entre esses dois momentos, sacerdotes conspiram contra a mensagem de amor que ele passa. Chega a ser perturbador pensar que Griffith está fazendo uma analogia à sua própria situação. Porém, por não ter um conflito e nem personagens centrais, é facilmente esquecível. Por fim, o relato da Noite de São Bartolomeu, onde milhares de protestantes foram assassinados a mando de Catherine de Medici, mãe do rei Charles IX. Apesar de curta, a cena é impactante, mostrando o desespero de uma família simples ao se ver no meio do conflito, ao mesmo tempo em que o pretendente da filha mais velha corre desesperadamente para salvá-la.


A obra-prima de Griffith é gigantesca até mesmo pelos padrões atuais. É impossível não se impressionar com a grande festa babilônica, onde o príncipe e sua amada dançam em comemoração à primeira vitória contra os persas, acompanhados por um travelling aéreo assustadoramente pioneiro. O filme tem potencial para agradar até mesmo quem não está acostumado a depender apenas de mímica e intertítulos, ainda mais se estes desconhecerem o contexto em que ele está inserido. Porém, uma prévia fascinação pelo cinema mudo aliada com uma análise da motivação do cineasta faz com que "Intolerância" recompense todo o tempo investido nele.


PS: Para quem tiver uma boa conexão, o filme está na íntegra no YouTube

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