sexta-feira, 14 de outubro de 2011

TEARS FOR FEARS (São Paulo, 06/10/2011)

Após quinze anos, durante os quais a banda teve tempo para se separar, organizar uma reunião e lançar dois álbuns (um de estúdio - Everybody Loves A Happy Ending, de 2004 - e outro ao vivo - Secret World, de 2006), o Tears For Fears, da dupla Roland Orzabal (guitarra e voz) e Curt Smith (baixo e voz), está novamente no Brasil, desta vez para uma turnê de seis datas, sendo a última delas (14 de outubro) um show extra motivado pela grande procura por ingressos. A segunda apresentação da banda ocorreu na última quinta-feira, 06 de outubro (a primeira havia sido dois dias antes, em Porto Alegre), no Credicard Hall, em São Paulo, com ingressos esgotados.



Com o show marcado para às 21:30, meia hora antes sobe ao palco o canadense Michael Wainwright, acompanhado apenas de seu violão, para fazer um opening act de vinte minutos. Com voz afinadíssima e agudos muitíssimo bem direcionados, Michael apresentou material próprio de ótima qualidade. Suas melodias são muito boas e pegajosas, com alguns momentos mais depressivos. Antes da última música, Wainwright pintou o rosto de branco e vermelho, simulando uma maquiagem de palhaço, na intenção de promover seu mais recente trabalho, The Circus Is Coming To Town, lançado há menos de um mês. 

Com meia hora de atraso, o Tears For Fears deu início ao show com Everybody Wants To Rule The World. O som estava absolutamente impecável, comprovando a qualidade da acústica da casa. 'Queimando' um dos maiores sucessos internacionais da década de 80 logo de cara, era notável a confiança que a banda sentia ao tocar cada nota. O público cantou a letra toda junto com Curt e, a partir dali, estava rendido. Muita gente se surpreendeu com a forma musical dos cinquentões e dos músicos de apoio: vocais, arranjos, execução, tudo impecável. A preocupação com a reprodução, no palco, de muitos detalhes presentes nas gravações originais de suas músicas demonstra a determinação da banda em fazer uma apresentação baseada, acima de tudo, no respeito pelos fãs. Houve apenas duas alterações importantes na estrutura das músicas: Advice For The Young At Heart foi encurtada, com a parte do solo omitida, e Change teve a base do primeiro verso modificada com um arranjo eletrônico. 




Na segunda música, a ótima Secret World, Michael Wainwright juntou-se à banda para acompanhá-los nos backing vocals pelo resto do show, sendo um dos destaques da apresentação com sua voz afinadíssima e, em muitas ocasiões, perfeitamente feminina. Completando a banda, os ótimos Charlton Pettus (guitarra e backing vocals), Doug Petty (teclados) e Jamie Wollam (bateria). Pettus é membro ativo da banda desde 2004, ano em participou do processo de composição e gravação do álbum Everybody Loves a Happy Ending. O guitarrista também aparece, dessa vez junto com Petty, no DVD/álbum ao vivo Secret World, de 2005. A bela Afton Hafley fez backing vocals em algumas músicas, mas apareceu pouco perto da harmonia do trio Roland-Curt-Michael. Alternando músicas tocadas à exaustão pelas FMs nas últimas décadas (Sowing The Seeds Of Love, Advice For The Young At Heart, Shout, Woman In Chains, Break It Down Again, Head Over Heels) e outras menos famosas, mas igualmente boas (Everybody Loves A Happy Ending, Closest Thing To Heaven), a banda - impecavelmente ensaiada - conquistou a plateia, que cantou praticamente todas as letras.


Roland disse algumas frases em português, várias outras em espanhol, brincou com o público e sorriu o show todo. Curt pediu desculpas por não saber se comunicar em português, limitando-se a alguns 'muito obrigado' no decorrer da noite, mas foi sempre simpático. Não foi necessário prestar muita atenção para notar que os dois se divertiram muito o tempo todo, e esse bem-estar se refletiu na qualidade da performance. Estão correndo boatos de que essa é uma turnê de 'aquecimento' antes de Roland e Curt entrarem em estúdio para a gravação de um novo álbum. Se o clima do show for refletido no disco, podemos esperar material novo de muita qualidade.




Michael Wainwright teve colaboração efetiva para o sucesso da apresentação fazendo, além dos vocais de apoio, uma das vozes principal em Woman In Chains e Badman's Song, que são originalmente duetos. Nas duas, ele fez os vocais agudíssimos de Oleta Adams, cantora americana que participou das gravações originais dessas músicas para o disco Seeds Of Love, de 1989.




O único cover da noite foi Billie Jean. É dispensável dizer que reproduzir músicas de Michael Jackson não é coisa simples. Provavelmente foi esse o motivo pelo qual a banda optou pela 'reconstrução' do clássico de 1982, e uma reconstrução no sentido literal da palavra: tom, andamento e fórmula de compasso foram totalmente alterados. Vou descrever os passos pelos quais eu passei ao ouvir essa música no show: inicialmente, foi irreconhecível; após o início da letra, rolou uma certa sensação de estranheza; durante o primeiro verso e primeiro refrão, a testa continuou franzida, tentando entender; a partir daí, entendi a proposta da banda e comecei a curtir. Eles optaram pelo caminho mais difícil, modificando drasticamente um hit da magnitude de Billie Jean, o que sempre será motivo de controvérsia, mas conseguiram se sair bem, com a certeza do dever cumprido.


O setlist da noite foi o seguinte:



Everybody Wants to Rule the World
Secret World
Sowing the Seeds of Love
Change
Call Me Mellow
Everybody Loves a Happy Ending
Mad World
Memories Fade
Closest Thing to Heaven
Billie Jean
Advice for the Young at Heart
Floating Down the River
Badman's Song
Pale Shelter
Break It Down Again
Head Over Heels
Woman in Chains
Shout

Com músicos experientes à vontade no palco, banda de apoio perfeita, backing vocal digno de reverência, setlist coerentemente elaborado, casa lotada e público cantando junto o tempo todo, a apresentação foi perfeita. Quem estava lá não viu o tempo passar e fez cara de susto quando o show acabou. Foi um show memorável, daqueles que ficam na sua cabeça vários dias. Foi a prova de que é possível envelhecer dignamente no meio musical fazendo música de qualidade e oferecendo uma apresentação que tem como foco único a música, não os efeitos de luz, a tecnologia dos telões ou as pressões da mídia e do público. Aprenda, U2!

Abaixo alguns links para vídeos do show no YouTube. Deixei apenas os links com os nomes das músicas porque o Blogger não está permitindo colocar os vídeos diretamente nessa página. É possível encontrar o show quase inteiro em Full HD. É só procurar no canal do usuário que upou os vídeos abaixo.








domingo, 2 de outubro de 2011

KING KONG (2 de 3)

KING KONG (1976)

Pôster original de 1976

Produzido por Dino de Laurentiis e dirigido por John Guillermin, esse é o remake que apresenta mais diferenças no desenvolvimento da história com relação ao original de 1933. A trama foi adaptada para a década de 1970, não se tratando, portanto, de um filme de época. Ainda temos uma linda mulher (a belíssima e semi-nua Jessica Lange) que é oferecida por nativos ao seu "deus" Kong, mas as razões que motivam a viagem até Skull Island são bem diferentes:  a empresa Petrox envia uma expedição, liderada pelo ambicioso Fred Wilson (Charles Grodin), até a ilha na esperança de encontrar uma reserva gigante de petróleo. Jack Prescott (Jeff Bridges) é um paleontólogo especializado em primatas que se infiltra no petroleiro para avisá-los sobre o perigo eminente devido aos rumores a respeito da existência de um macaco gigante na ilha. Identificado como clandestino, Prescott é preso e obrigado a trabalhar como fotógrafo da expedição. Em seguida, um bote salva-vidas é avistado em alto-mar. Dentro dele, encontram Dwan (Jessica Lange, fazendo sua estreia em filmes), provavelmente a única sobrevivente de um naufrágio ocorrido na noite anterior. O operador de rádio do navio chegou a captar um pedido de S.O.S., mas a transmissão estava ruim e não foi possível identificar seu emissor.

Primeiros momentos em Skull Island

Ao chegarem na ilha, notam a existência de uma muralha gigante e, ao investigarem, presenciam um ritual dos nativos. Essa parte é quase idêntica à da versão original: o ritual é interrompido, os nativos oferecem várias de suas mulheres em troca de Dwan, o pedido é recusado e, à noite, a loira é sequestrada pelos nativos dentro do barco e oferecida a Kong após ser dopada com uma bebida preparada pelos nativos. A diferença é que, ao contrário do original, não há nenhum conhecedor do idioma dos nativos entre os integrantes da expedição e a comunicação é feita exclusivamente através de gestos.

Dwan transformada em oferenda

Frustrado pela notícia de que a grande quantidade de petróleo da ilha não seria apropriado para a comercialização, Fred crê que o único jeito de obter algum lucro com a expedição é capturar Kong, levá-lo para Nova York e apresentá-lo às multidões.Um dos pontos bem explorados nesse filme é o transporte do gorilão pelo oceano. Com um tanque gigante disponível, foi possível mostrar essa sequência no filme, coisa que não ocorre nas outras duas versões. Ainda assim, como nos outros dois, não é mostrado como o bicho é retirado da ilha e levado até o navio. Em Nova York, a história é a de sempre: Kong se solta durante sua primeira apresentação e espalha o caos na cidade até ser abatido (dessa vez por helicópteros) no topo do World Trade Center (Empire State Building no original). Com relação aos outros animais que viviam na Ilha da Caveira na versão original, apenas uma cobra gigante aparece nessa versão. Não há dinossauros, insetos gigantes nem nada do tipo.

Dwan nas garras de Kong

Originalmente, o primeiro Kong foi filmado com a técnica de animação stop-motion, motivo pelo qual foi extremamente elogiado e é citado como referência até hoje, e com o uso de um busto e um braço gigantes. Para esta versão, decidiram retratar o gorila de formas diferentes: além do braço gigante, foram construídas duas pernas (para a parte do transporte do animal no petroleiro e para as cenas nas quais ele esmaga pessoas) mecanicamente acionadas e um modelo mecânico gigante de Kong, mas a mudança mais importante foi que, quando ele aparecia de corpo inteiro na tela, não se tratava de um boneco, miniatura ou algo do tipo, mas de um ator vestido com uma fantasia de macaco. Esse fator gera opiniões divididas até hoje e foi alvo de muitas críticas. Eu, particularmente, acho que a movimentação ficou muito boa, mas falarei mais sobre esse aspecto específico no próximo post. As diferentes expressões no rosto de Kong são excelentes, sem parecerem artificiais. O modelo mecânico gigante, construído por Carlo Rambaldi, tinha 12 metros de altura e apareceu pouquíssimo tempo na edição final do filme (apenas na cena na qual Kong está acorrentado e sendo apresentado ao público). Acho que essa foi uma decisão acertada, já que o modelo apresenta movimentação extremamente artificial.

O modelo de Carlo Rambaldi que quase não apareceu no filme

Quem elaborou e vestiu a roupa de Kong foi um dos maiores nomes da história do cinema no que diz respeito à maquiagem e efeitos especiais: Rick Baker. Só para citar alguns de seus trabalhos mais importantes, temos Lobisomem Americano em Londres (1981), O Exorcista (1973), Star Wars (1977), Grito de Horror (1981),  Thriller (videoclipe de Michael Jackson, 1983), Homens de Preto (1997), Planeta dos Macacos (2001) e O Lobisomem (2010). A lista de trabalhos e prêmios é enorme. Para quem quiser, é só conferir na Wikipedia. (link)

O responsável pela 'voz' de Kong foi Peter Cullen, dublador americano que tem como destaques em sua carreira as vozes de Optimus Prime (na série animada e nos filmes da série Transformes) e Vingador (Caverna do Dragão), entre dezenas de outros trabalhos notáveis. Ainda com relação ao som, a trilha sonora é magnífica, assim como nos outros dois filmes. O compositor John Barry (criador das trilhas de Dança Com Lobos, Proposta Indecente, 14 filmes da série James Bond e vários outros) foi perfeito nas escolhas dos temas e variações, fazendo com que nuances tão distintas soassem perfeitamente adaptadas às cenas, como o tema de amor, a música leve que toca enquanto o petroleiro navega pelo Oceano Índico e temas mais tensos como os que aparecem nas cenas de perseguição na selva ou durante a destruição causada por Kong em Nova York.

O tema de amor do compositor John Barry

Exibido à exaustão na Sessão da Tarde durante as décadas de 80 e 90, essa versão é, com certeza, a mais difundida na televisão brasileira. O filme é muito contestado pela crítica, mas vejo muitos pontos positivos nela que não existem nas outras duas versões, incluindo a ousadia para mudar vários elementos da história, deixando evidente a preocupação em não simplesmente copiar o roteiro original. O filme é muito bem feito, tem atuações convincentes (destaque para Jeff Bridges), ótimo timing, trilha sonora acima da média e é muito divertido. Recomendado!!! 


Nesse vídeo é possível ter uma noção da movimentação de Kong, ver alguns efeitos especiais 
e conferir uma amostra da maravilhosa trilha sonora de John Barry

Esse filme possui uma sequência, lançada em 1986, chamada King Kong 2 no Brasil (título original: King Kong Lives). Também dirigido por John Guillermin, é um filme que foi feito para ser esquecido. Conseguiram ter a brilhante ideia de filmar o absurdo mais improvável: Kong passa por um transplante cardíaco (!), encontra uma fêmea (!!) e tem um herdeiro (!!!). Fuja desse filme!

O review do primeiro filme (de 1933) pode ser lido aqui

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

HORROR SHOW (ICED EARTH - 2001)



Iced Earth é uma banda norte americana criada em 1984 pelo guitarrista John Schaffer. O som da banda é uma mistura de Power Metal com Trash Metal. A banda começou a ter um destaque maior na mídia a partir de 1994, com a entrada do ótimo vocalista Matt Barlow. Sempre o Iced Earth gostou de lançar discos conceituais, como o Night Of The Stormrider de 1991 e o The Dark Saga de 1996, que conta a história do personagem Spawn dos quadrinhos de Todd McFarlane.



Em 2001 saiu outro álbum conceitual. Mas ao invés de contar uma história, Horror Show tem todas as músicas ligadas por um tema central: monstros e filmes de terror. Lançado no dia 26 de junho de 2001, o álbum traz a banda no seu ápice. É o último antes da saída do vocalista Matt Barlow (que foi substituído pelo ex Judas Priest Tim “Ripper” Owens). Todas as músicas são excelentes, com destaque para o 1º single, Dracula, que até hoje é uma das mais conhecidas da banda.


Pra quem quiser conhecer Iced Earth, esse é um ótimo CD para começar. A banda no auge, composições bastante inspiradas E Matt detonando nos vocais! Ouçam o CD, e depois assistam aos filmes em que elas foram baseadas!

      Agora o setlist e as inspirações das músicas: 
          Wolf – Baseado em The Wolf Man (O Lobisomem), filme de 1941.
Damien – Baseado em The Omen (A Profecia), filme de 1976.
      Jack – Não é baseado em nenhum filme em particular, mas em toda lenda em torno de Jack, O Estripador. 
          Ghost Of Freedom – Baseado numa história própria criada por Matt Barlow.
          Im-Ho-Tep (Pharaoh’s Curse) – Baseado em TheMummy (A Múmia), filme de 1932.
      Jekyll & Hyde – Basedo no clássico da literatura Strange Case Of Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
      Dragon’s Child – Baseado em Creature From TheBlack Lagoon (O Monstro Da Lagoa Negra), filme de 1954.
      Transylvania – Cover da música instrumental clássica do Iron Maiden. 
          Frankenstein – Baseado no filme de 1930, com Boris Karloff como o Monstro.
      Dracula – Baseado no filme Drácula de Bram Stoker, dirigido por Francis Ford Copolla em 1992.
      The Phantom Opera Ghost – Baseado no file ThePhantom Of The Opera (O Fantasma Da Ópera) de 1925 com Lon Chaney como o Fantasma.

PS: No final de 2011 sairá o álbum Dystopia, que tem o mesmo conceito, mas com obras que apresentam futuros distópicos, como V De Vingança e Soylent Green (No Mundo De 2020).




domingo, 25 de setembro de 2011

RED HOT CHILI PEPPERS NO ROCK IN RIO - 24/09/2011

Falar sobre os Red Hot Chili Peppers é algo complicado. Quando se trata de uma das poucas bandas americanas que podem ser consideradas realmente influentes na cena musical mundial desde a era pós-punk, qualquer expectativa adquire proporções gigantescas. Quem nasceu na década de 90 e conheceu os Peppers no início/metade da década de 2000 pode ter uma visão completamente diferente dos fãs que acompanham a banda há mais tempo e ficaram decepcionados com a apresentação da banda na Cidade do Rock em 2001 (som fraco, banda aparentemente sem motivação, frescura do Frusciante em não tocar as ótimas músicas gravadas pelo Navarro, etc.).


Mesmo com os ótimos DVDs lançados durante a última década, essa displicência no RIR 3 me fez ficar com um pé atrás quando se trata de RHCP ao vivo (ao vivo de verdade, não com as possíveis correções feitas em DVDs e afins), portanto pode ser que minha visão sobre o show de ontem seja diferente da de muita gente, mas um fato é inegável: as músicas de Stadium Arcadium e I'm With You soam fracas, menores e repetitivas quando comparadas às dos monstruosos álbuns das décadas de 80 e 90. By the Way já apresentava algumas músicas abaixo do nível costumeiro de qualidade dos caras , mas ainda assim é um ótimo disco. 

Sobre o show, a apresentação foi competentíssima. Chad moeu a bateria, como de costume, dando uma aula de divisão rítmica. O batera, inclusive, fez um solo muito legal junto com o percussionista brasileiro Mauro Refosco, que também participou das gravações do decepcionante I'm With You, lançado há cerca de um mês. Flea é o mico-sagui de sempre: pula, corre, sacode, abaixa e, acima de tudo, toca uma barbaridade. Não é exagero nenhum falar que o baixista é um dos mais influentes da história. Extremamente criativo, energético e virtuosíssimo, ele é o corpo, a alma e o sangue do RHCP. O vocalista Anthony Kiedis esteve bem ontem: cantou todas perfeitamente e agitou bastante o público. O único senão ficou por conta do guitarrista Josh Klinghoffer, substituto do ídolo John Frusciante. Em algumas músicas, ele colocou mais notas do que devia e, na minha opinião, pecou em algumas escolhas de timbres (em Around the World, principalmente). Por estar tocando músicas majoritariamente calcadas na parte rítmica, é essencial aderir ao lema dos músicos conscientes: "menos é mais." Apesar disso, é evidente que trata-se de um grande músico, caso contrário não teria sido convidado para integrar uma banda desse porte. O problema principal não é Josh, e sim John e sua marca característica nas músicas maravilhosas que deixou como legado. As comparações são inevitáveis (e tristes).


Com dez álbuns de estúdio lançados, elaborar um repertório de dezoito músicas com tanta coisa boa para ser selecionada parece ser um trabalho dificílimo, mas a impressão que tenho é que eles gostam de complicar. Primeiramente, festival não é lugar para experiência. O repertório deveria ter muito material conhecido e poucas surpresas. Infelizmente, quase metade das músicas (sete) foi dos últimos dois discos, (destaques positivos apenas para Look Around, que funcionou bem, e para o hit Dani California), eliminando do set músicas interessantíssimas de The Uplift Mofo Party Plan, Mother's Milk, Blood Sugar Sex Magik, One Hot Minute e até um sucesso óbvio de Californication (a ótima Scar Tissue). Os destaques ficaram por conta de Otherside (cantada em uníssono), o excelente cover de Stevie Wonder Higher Ground, Can't Stop e o bis com Around the World, a fantástica Blood Sugar Sex Magik e o sucesso do começo da década de 90 Give It Away. Outro destaque foi a homenagem ao fã Rafael Mascarenhas (o rosto do rapaz estava estampado nas camisetas que usaram no bis), jovem que morreu atropelado por um carro que participava de um racha enquanto andava de skate ano passado na cidade do Rio de Janeiro. O motorista, que não prestou socorro e pagou propina a policiais para não ser preso em flagrante, ainda não foi julgado.


É inegável que a sonoridade da banda mudou. Aliás, a sonoridade das bandas, de uma forma geral, muda. As pessoas envelhecem, passam por experiências constantes, buscam coisas novas e mudam. Entretanto, uma coisa que não pode faltar no RHCP é sua marca característica: criatividade. Nos últimos dois discos, eles gravaram praticamente a mesma coisa, o que é decepcionante se considerarmos o potencial desses caras como músicos e compositores. E lotar o show com músicas repetitivas, mesmo que executadas com maestria, é algo que a mim, fã de longa data, não chega nem perto de agradar. Quero deixar claro que não acho que bandas que gravam há várias décadas devem viver de passado. Sou contra isso, mas deve haver equilíbrio. Tocar três músicas de Mother's Milk e Blood Sugar Sex Magik juntos, duas de Californication e SETE de Stadium Arcadium e I'm With You é uma escolha sem pé nem cabeça! Ficou claro que a intenção é aderir à molecada que começou a acompanhá-los com Stadium.

Concluindo, faltou escolher melhor o que tocar, porque energia, competência na execução e domínio de palco não faltaram. Foi uma apresentação quase perfeita, não fosse a overdose de músicas mais recentes no repertório. Eles bem que me avisaram sobre essa "opção pela facilidade" em "Once you know you can never go back / You gotta take it on the otherside," mas não adianta. É pedir demais para quem cresceu ouvindo coisas excelentes escritas por eles mesmos. 

Abaixo segue uma foto do repertório de ontem escrito à mão. Só ficou faltando Pea, do disco One Hot Minute, que foi tocada e cantada por Flea.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DEUS EX: HUMAN REVOLUTION (2011)








Deus Ex: Human Revolution é um prequel do clássico jogo lançado em 2000. Criado pelo lendário desenvolvedor Warren Spector (System Shock, Epic Mickey), Deus Ex foi inovador ao misturar um jogo de ação em 1ª pessoa e RPG, dando uma liberdade de escolha ao jogador nunca vista antes.

Lançado em agosto de 2011 para PC, Xbox 360 e PS3, Deus Ex: Human Revolution, foi produzido pela Eidos Montreal e publicado pela Square Enix.  É o primeiro jogo da série a não ter nenhuma participação de Warren Spector.

A liberdade de escolha do jogo original continua. Existem várias maneiras de cumprir seu objetivo. Desde sair encarando os inimigos de frente, ou adotar uma postura stealth e terminar a missão sem ser visto. Conforme você cumpre suas missões, recebe pontos para melhorar suas habilidades. Quando joguei resolvi gastar todos os pontos nas habilidades stealth e só usei armas não letais. O terminei sem matar nenhum inimigo (exceção aos chefes que você é obrigado a matar).



Tecnicamente o jogo é muito bom. Os gráficos não são os melhores da geração, mas não deixam a desejar. Os personagens principais são muito bem detalhados, mas a maioria dos NPCs parecem genéricos demais, o que tira um pouco da “vida” do jogo. O som do jogo é ótimo, com uma dublagem competentíssima e uma trilha sonora eletrônica, composta por Michael MacCann, que caiu muito bem no clima futurista do jogo.



 A história começa em Detroit, no ano de 2027, 25 anos antes do jogo original. O jogador controla Adam Jensen, chefe da segurança das Indústrias Sarif. Megan, principal cientista da Sarif e namorada de Adam, faz uma descoberta que promete mudar o rumo das pesquisas sobre a “melhoria” do corpo humano de forma não natural. Na época essas “melhorias” eram conseguidas através de implantes mecânicos e chips no cérebro. Mas com a pesquisa de Megan, nano tecnologia começaria ser usada. A sede das Indústrias Sarif é atacada, Megan e sua equipe são mortos e Adam deixado pra morrer. Usando o melhor dos implantes da época, Adam é “reconstruído” e passa a investigar quem está por trás do ataque. No decorrer do jogo, ele descobre ser peça fundamental numa conspiração que levará à distopia do Deus Ex original.


Deus Ex: Human Revolution não é tão bom quanto o primeiro, mas cumpre bem o papel de ser o alicerce pra uma história muito maior. O fator replay do jogo é alto, pois além das diversas formas de cumprir suas missões, ele tem diversos finais diferentes dependendo das escolhas do jogador. Recomendado tanto a quem gosta de jogos de tiro em 1ª pessoa como a quem gosta de RPGs e jogos stealth.

PS: O jogo contém diversas referências a outras obras, como pode ser visto nesse link.