Mostrando postagens com marcador década de 1930. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador década de 1930. Mostrar todas as postagens

domingo, 11 de setembro de 2011

KING KONG (1 de 3)

Antes de escrever esse texto, me vi em dúvida a respeito do que eu deveria considerar um spoiler na história de King Kong. Sendo um personagem familiar às multidões desde 1933, tão popular quanto Mickey Mouse, Batman ou os Beatles, decidi que não me obrigaria a omitir informações sobre o enredo de cada um dos três filmes, já que a história básica dos filmes do macacão é de conhecimento de (praticamente) todos os habitantes da Terra. Resolvi colocar aquele praticamente entre parênteses porque invariavelmente aparecerá uma pessoa que nunca tenha ouvido falar no nome "King Kong". Minha experiência de vida me faz acreditar que esse tipo de pessoa/exceção existe, sempre disposta a fazer pasmar todos aqueles ao seu redor com perguntas iniciadas por "Quem é...?" Eu, por exemplo, já tive contato com uma pessoa que nunca havia ouvido falar dos Beatles, causando comoção geral e irrestrita no ambiente onde a fatídica pergunta foi proferida. Conhecer a obra não é obrigação de ninguém, mas, convenhamos, nunca ter ouvido falar o nome Beatles?! Também já ouvi dizer que John Lennon fez um show no Brasil há pouco tempo, mas consegui desvendar esse mistério sem ter sido preciso localizar o médium que incorporou o pai de todos os emos: a pessoa havia "apenas" confundido os nomes, trocando Elton John por John Lennon. Foi devidamente perdoada.


Se após tudo isso, a história de um grupo de exploradores (ou extrativistas, ou ainda uma equipe de produção de cinema) que chega a uma ilha, se depara com um gorila gigante, que por sua vez se apaixona por uma loira integrante do grupo, que por sua vez fora capturada por nativos e oferecida ao tal gorila, que por sua vez é considerado uma divindade pelos tais nativos e acaba sendo capturado e levado a Nova York, que por sua vez é parcialmente destruída até o animal ser morto, é novidade para você, vou passar a considerar até títulos de filmes spoilers.

A intenção dessa sequência de posts é comparar as três versões de King Kong (a original, de 1933, e os remakes, de 1976 e 2005) baseadas na história original, desconsiderando spin-offs (alguns interessantes) e sequências (fracas). Nesse primeiro texto, abordarei apenas o primeiro dos três filmes.


VERSÃO ORIGINAL (1933)


Considerada uma das maiores obras-primas da história do cinema, o filme que apresentou King Kong ao mundo é um espetáculo visual e sonoro, tendo se tornado referência no que diz respeito a efeitos especiais e aberto as portas de Hollywood para os filmes do gênero fantasia. É importante lembrar que quando Kong foi produzido, o cinema engatinhava e tudo era extremamente trabalhoso. Portanto, antes que alguém resmungue algo sobre o filme, é essencial que o entendamos a partir da época na qual foi produzido. Nos dias de hoje, julgar um filme rodado a quase oitenta anos, nos primórdios do cinema falado (em seu sexto ano, para ser mais preciso), no qual os efeitos especiais tinham que ser feitos puramente "no braço", parece ser fácil, mas se imaginarmos uma equipe de produção realizando uma obra desse nível sem auxílio algum de técnicas de computação gráfica, fica fácil concluir que essas pessoas realizaram o décimo-terceiro trabalho de Hércules em King Kong.




Idealizado por Merian C. Cooper e Edgar Wallace, a produção teve que superar alguns contratempos: como Wallace faleceu em 1932, pouco tempo após ter começado a trabalhar no roteiro, James Creelman e Ruth Rose foram contratados para terminar essa tarefa. Na direção, Cooper foi auxiliado por Ernest B. Shoedsack.

Resumo da história (com muitos spoilers, se é que eles existem): Carl Denham (Robert Armstrong) é um diretor de cinema que, pressionado para realizar um filme de sucesso, decide que a locação perfeita para rodá-lo é a lendária Ilha da Caveira (Skull Island), localizada a oeste da Indonésia. Ann Darrow (Fay Wray) é uma bela loira desempregada - vale lembrar que a história se passa durante a Grande Depressão, iniciada com a crise de 1929 - que realiza uma tentativa frustrada de roubar uma maçã para amenizar sua fome. Carl Denham paga pela maçã e oferece um jantar a Ann, propondo também que a linda mulher seja a atriz principal de seu filme. Ao chegarem em Skull Island, eles descobrem que o local é habitado por nativos, que têm sua aldeia protegida por uma enorme muralha. Enquanto assistem a um ritual dos nativos, Carl e sua equipe são descobertos.




 Impressionado com Ann, o chefe oferece seis de suas mulheres pela 'mulher dourada'. O capitão Englehorn, conhecedor do dialeto dos nativos, intermedia a conversa e recusa a oferta. Insatisfeitos com a recusa, os indígenas raptam Ann e a oferecem a Kong, o gorila gigante que vive na selva atrás da muralha. Apaixonado por Darrow, o gorila fica enfurecido quando ela é resgatada por John Driscoll (Bruce Cabot), tripulante do barco e outro apaixonado por Ann, perseguindo-os até a aldeia, invadindo-a e, em seguida, sendo capturado e levado no navio até Nova York. Lá Kong é apresentado por Carl Denham  em um teatro como 'a oitava maravilha do mundo'. Com a presença de Ann e assustado com os flashes dos fotógrafos, Kong se livra das correntes e promove o caos na cidade até ser abatido por aviões no topo do Empire State Building.




A animação de Kong foi inteiramente realizada com a técnica de stop-motion (a mesma utilizada nos famosos desenhos em que os personagens são bonecos de 'massinha' de modelar), que envolve o uso de fotografias dos modelos. Com vinte e quatro imagens por segundo de filmagem, quando rodadas em sequência, essas imagens geram a sensação de movimento. De modo grosseiro e guardadas as respectivas proporções, podemos comparar essa técnica com aquela muito comum de animar um boneco desenhado nas folhas de um bloquinho de papel. Quando soltas em sequência, temos a impressão de que o boneco está em movimento. 


Animar um boneco em um bloco de papel pode ser fácil, mas o mesmo não pode ser dito para um boneco de 40 centímetros de altura (com armação interna de metal e revestimento de pelo de coelho) que é o personagem principal de um filme de uma hora e meia de duração. O trabalho de animação de Kong foi extenuante e constituiu apenas parte do trabalho, já que a produção também incluiu um busto gigante de Kong, um braço (para as cenas nas quais Kong segura Ann) e um pé. Além disso, todos os outros monstros de Skull Island (diversas espécies de dinossauros) também foram animados com a técnica de stop-motion. O responsável pela animação foi Willis O'Brien, que ganhou enorme reconhecimento por seu trabalho e é citado, ainda nos dias de hoje, como um dos pais dos efeitos especiais na indústria cinematográfica. Para a mistura das cenas que envolvem Kong e os atores reais (filmadas em separado), foram utilizadas técnicas de recorte e colagem nos negativos de modo extremamente convincente.




Max Steiner, o criador da trilha sonora, conseguiu capturar as diversas nuances do filme e reproduzi-las nas músicas de fundo. Momentos de tensão, alívio, fuga, lutas e até a dança dos nativos foram brilhantemente acompanhados pela trilha sonora de Steiner. Com relação aos efeitos sonoros, assim como em todas as áreas da produção, tudo funciona muito bem. O rugido de Kong se assemelha ao de um grande felino. Para chegar a esse resultado, gravações de rugidos de leões e tigres foram trabalhadas (aceleradas, desaceleradas, rodadas ao contrário, etc.) à exaustão.




Além de toda a parte técnica da obra cinematográfica, a partir da fantasia, King Kong nos faz refletir sobre questões pertinentes de nossa realidade como a ambição desenfreada, a alteração desnecessária de habitat de um animal (inserindo-o em um ecossistema despreparado para recebê-lo), as tradições dos nativos (sacrifício humano para "acalmar" seu deus) e até um amor improvável. É um clássico sem prazo de validade, obrigatório para todos os apreciadores da sétima arte.


Abaixo segue o trailer do filme com boas amostras da excelente animação do macacão!




Há alguns anos, o filme foi devidamente restaurado e lançado em Blu-ray, com extras excelentes (comentários, um documentário maravilhoso e completo, entre outros). Fica a dica.


P.S.: Se for para ser muito chato e procurar um ponto negativo no filme, eu diria que são os gritos (agudíssimos) de Fay Wray :P



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O HOMEM INVISÍVEL (The Invisible Man, 1933)

Após uma sequência de sucesso com o gênero horror no início da década de 1930 com Drácula (1931, de Tod Browning), Frankenstein (1931, de James Whale) e A Múmia (1932, de Karl Freund), a Universal lançou, em novembro de 1933, O Homem Invisível, adaptação para o cinema do romance homônimo de H. G. Wells, lançado em 1897.


Dirigido por James Whale (Frankenstein, de 1931, e A Noiva De Frankenstein, de 1935) e com Claude Rains (de O Fantasma da Ópera (1943), Casablanca, O Lobisomem e As Aventuras de Robin Hood, entre outros destaques) no papel principal, o filme conta a história de um cientista que trabalhou obsessivamente e sigilosamente tentando descobrir a fórmula da invisibilidade. Após aplicar em si mesmo, por um mês, injeções de um composto que ele mesmo desenvolvera, Jack Griffin (Rains) se torna invisível. Diante de uma mal-sucedida tentativa de passar por um período de isolamento em um vilarejo para tentar descobrir um antídoto para a invisibilidade, ele busca seu amigo - também cientista - Arthur Kemp (William Harrigan) para propor-lhe uma parceria criminosa, visando poder e dinheiro. Além de tê-lo tornado invísivel, a fómula também o deixara insano, tornando-o um homem sem escrúpulos, disposto a matar aqueles que cruzassem seu caminho para conquistar seus objetivos. 


Com o papel de protagonista, Claude Rains conseguiu algo que poucos conseguiram: tornar-se referência em uma obra na qual seu rosto não aparece (spoilers evitados ao extremo). Dividindo seus momentos em tela entre seu visual "múmia-vestida" (envolto em ataduras, usando óculos escuros e trajando calças, casaco e um chapéu) e seu "não-visual" (apenas narrando as cenas nas quais está invisível), Rains faz um trabalho primoroso, deixando sua voz (com sotaque cockney, eu diria, mas não me arrisco a afirmar) como uma das características mais marcantes desse longa. 


Outros três responsáveis diretos pelo sucesso do filme são John P. Futton, John J. Mescall e Frank D. Williams, os artistas que criaram os efeitos especiais. Dadas as condições técnicas da época da produção da película, tempo no qual computadores eram considerados tão ficção científica quanto a história de um homem que se torna invisível, o que aparecia (ou não) na tela dependia da habilidade dessas pessoas em técnicas como cortes, recortes, sobreposição de imagens, manipulação de substâncias químicas, uso de cabos para suspensão e, acima de tudo, muita criatividade. Mesmo perto de completar oitenta anos de seu lançamento, O Homem Invisível ainda convence na maior parte dos efeitos utilizados, que o tornaram obra de referência nesse aspecto da produção cinematográfica. 

A música ficou a cargo de Heinz Roemheld (responsável, entre outros, pela trilha sonora da cena que retrata o incêndio na cidade de Atlanta em E O Vento Levou), que criou temas adequados à cada momento da trama. Os efeitos sonoros também foram muito bem montados, principalmente nas cenas mais cômicas, contribuindo para sua eficiência.



Assim como se tornaria praxe nas décadas de 30 a 50, e com algumas ocorrências perdurando nos dias de hoje, um filme de terror de sucesso geraria (às vezes muitas) sequências. Isso ocorreu com Drácula, Frankenstein, O Lobisomem, O Monstro da Lagoa Negra e tantos outros, com Sexta-Feira 13, Halloween e Jogos Mortais sendo alguns dos exemplos mais recentes. O Homem Invisível teve quatro sequências, não baseadas diretamente em Jack Griffin, mas todas construídas ao redor do conceito de invisibilidade: The Invisible Man Returns (1940), The Invisible Woman (1940), Invisible Agent (1942) e The Invisible Man's Revenge (1944), todas lançadas pela Universal. 


Com elementos diversos como suspense, assassinato, ficção científica, perseguição, romance e uma boa dose de humor (com destaque para Una O'Connor no papel da Sra. Hill, a dona da pensão na qual Jack Griffin tenta se recolher da sociedade), O Homem Invisível é garantia de ótima diversão.