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domingo, 2 de outubro de 2011

KING KONG (2 de 3)

KING KONG (1976)

Pôster original de 1976

Produzido por Dino de Laurentiis e dirigido por John Guillermin, esse é o remake que apresenta mais diferenças no desenvolvimento da história com relação ao original de 1933. A trama foi adaptada para a década de 1970, não se tratando, portanto, de um filme de época. Ainda temos uma linda mulher (a belíssima e semi-nua Jessica Lange) que é oferecida por nativos ao seu "deus" Kong, mas as razões que motivam a viagem até Skull Island são bem diferentes:  a empresa Petrox envia uma expedição, liderada pelo ambicioso Fred Wilson (Charles Grodin), até a ilha na esperança de encontrar uma reserva gigante de petróleo. Jack Prescott (Jeff Bridges) é um paleontólogo especializado em primatas que se infiltra no petroleiro para avisá-los sobre o perigo eminente devido aos rumores a respeito da existência de um macaco gigante na ilha. Identificado como clandestino, Prescott é preso e obrigado a trabalhar como fotógrafo da expedição. Em seguida, um bote salva-vidas é avistado em alto-mar. Dentro dele, encontram Dwan (Jessica Lange, fazendo sua estreia em filmes), provavelmente a única sobrevivente de um naufrágio ocorrido na noite anterior. O operador de rádio do navio chegou a captar um pedido de S.O.S., mas a transmissão estava ruim e não foi possível identificar seu emissor.

Primeiros momentos em Skull Island

Ao chegarem na ilha, notam a existência de uma muralha gigante e, ao investigarem, presenciam um ritual dos nativos. Essa parte é quase idêntica à da versão original: o ritual é interrompido, os nativos oferecem várias de suas mulheres em troca de Dwan, o pedido é recusado e, à noite, a loira é sequestrada pelos nativos dentro do barco e oferecida a Kong após ser dopada com uma bebida preparada pelos nativos. A diferença é que, ao contrário do original, não há nenhum conhecedor do idioma dos nativos entre os integrantes da expedição e a comunicação é feita exclusivamente através de gestos.

Dwan transformada em oferenda

Frustrado pela notícia de que a grande quantidade de petróleo da ilha não seria apropriado para a comercialização, Fred crê que o único jeito de obter algum lucro com a expedição é capturar Kong, levá-lo para Nova York e apresentá-lo às multidões.Um dos pontos bem explorados nesse filme é o transporte do gorilão pelo oceano. Com um tanque gigante disponível, foi possível mostrar essa sequência no filme, coisa que não ocorre nas outras duas versões. Ainda assim, como nos outros dois, não é mostrado como o bicho é retirado da ilha e levado até o navio. Em Nova York, a história é a de sempre: Kong se solta durante sua primeira apresentação e espalha o caos na cidade até ser abatido (dessa vez por helicópteros) no topo do World Trade Center (Empire State Building no original). Com relação aos outros animais que viviam na Ilha da Caveira na versão original, apenas uma cobra gigante aparece nessa versão. Não há dinossauros, insetos gigantes nem nada do tipo.

Dwan nas garras de Kong

Originalmente, o primeiro Kong foi filmado com a técnica de animação stop-motion, motivo pelo qual foi extremamente elogiado e é citado como referência até hoje, e com o uso de um busto e um braço gigantes. Para esta versão, decidiram retratar o gorila de formas diferentes: além do braço gigante, foram construídas duas pernas (para a parte do transporte do animal no petroleiro e para as cenas nas quais ele esmaga pessoas) mecanicamente acionadas e um modelo mecânico gigante de Kong, mas a mudança mais importante foi que, quando ele aparecia de corpo inteiro na tela, não se tratava de um boneco, miniatura ou algo do tipo, mas de um ator vestido com uma fantasia de macaco. Esse fator gera opiniões divididas até hoje e foi alvo de muitas críticas. Eu, particularmente, acho que a movimentação ficou muito boa, mas falarei mais sobre esse aspecto específico no próximo post. As diferentes expressões no rosto de Kong são excelentes, sem parecerem artificiais. O modelo mecânico gigante, construído por Carlo Rambaldi, tinha 12 metros de altura e apareceu pouquíssimo tempo na edição final do filme (apenas na cena na qual Kong está acorrentado e sendo apresentado ao público). Acho que essa foi uma decisão acertada, já que o modelo apresenta movimentação extremamente artificial.

O modelo de Carlo Rambaldi que quase não apareceu no filme

Quem elaborou e vestiu a roupa de Kong foi um dos maiores nomes da história do cinema no que diz respeito à maquiagem e efeitos especiais: Rick Baker. Só para citar alguns de seus trabalhos mais importantes, temos Lobisomem Americano em Londres (1981), O Exorcista (1973), Star Wars (1977), Grito de Horror (1981),  Thriller (videoclipe de Michael Jackson, 1983), Homens de Preto (1997), Planeta dos Macacos (2001) e O Lobisomem (2010). A lista de trabalhos e prêmios é enorme. Para quem quiser, é só conferir na Wikipedia. (link)

O responsável pela 'voz' de Kong foi Peter Cullen, dublador americano que tem como destaques em sua carreira as vozes de Optimus Prime (na série animada e nos filmes da série Transformes) e Vingador (Caverna do Dragão), entre dezenas de outros trabalhos notáveis. Ainda com relação ao som, a trilha sonora é magnífica, assim como nos outros dois filmes. O compositor John Barry (criador das trilhas de Dança Com Lobos, Proposta Indecente, 14 filmes da série James Bond e vários outros) foi perfeito nas escolhas dos temas e variações, fazendo com que nuances tão distintas soassem perfeitamente adaptadas às cenas, como o tema de amor, a música leve que toca enquanto o petroleiro navega pelo Oceano Índico e temas mais tensos como os que aparecem nas cenas de perseguição na selva ou durante a destruição causada por Kong em Nova York.

O tema de amor do compositor John Barry

Exibido à exaustão na Sessão da Tarde durante as décadas de 80 e 90, essa versão é, com certeza, a mais difundida na televisão brasileira. O filme é muito contestado pela crítica, mas vejo muitos pontos positivos nela que não existem nas outras duas versões, incluindo a ousadia para mudar vários elementos da história, deixando evidente a preocupação em não simplesmente copiar o roteiro original. O filme é muito bem feito, tem atuações convincentes (destaque para Jeff Bridges), ótimo timing, trilha sonora acima da média e é muito divertido. Recomendado!!! 


Nesse vídeo é possível ter uma noção da movimentação de Kong, ver alguns efeitos especiais 
e conferir uma amostra da maravilhosa trilha sonora de John Barry

Esse filme possui uma sequência, lançada em 1986, chamada King Kong 2 no Brasil (título original: King Kong Lives). Também dirigido por John Guillermin, é um filme que foi feito para ser esquecido. Conseguiram ter a brilhante ideia de filmar o absurdo mais improvável: Kong passa por um transplante cardíaco (!), encontra uma fêmea (!!) e tem um herdeiro (!!!). Fuja desse filme!

O review do primeiro filme (de 1933) pode ser lido aqui

domingo, 11 de setembro de 2011

KING KONG (1 de 3)

Antes de escrever esse texto, me vi em dúvida a respeito do que eu deveria considerar um spoiler na história de King Kong. Sendo um personagem familiar às multidões desde 1933, tão popular quanto Mickey Mouse, Batman ou os Beatles, decidi que não me obrigaria a omitir informações sobre o enredo de cada um dos três filmes, já que a história básica dos filmes do macacão é de conhecimento de (praticamente) todos os habitantes da Terra. Resolvi colocar aquele praticamente entre parênteses porque invariavelmente aparecerá uma pessoa que nunca tenha ouvido falar no nome "King Kong". Minha experiência de vida me faz acreditar que esse tipo de pessoa/exceção existe, sempre disposta a fazer pasmar todos aqueles ao seu redor com perguntas iniciadas por "Quem é...?" Eu, por exemplo, já tive contato com uma pessoa que nunca havia ouvido falar dos Beatles, causando comoção geral e irrestrita no ambiente onde a fatídica pergunta foi proferida. Conhecer a obra não é obrigação de ninguém, mas, convenhamos, nunca ter ouvido falar o nome Beatles?! Também já ouvi dizer que John Lennon fez um show no Brasil há pouco tempo, mas consegui desvendar esse mistério sem ter sido preciso localizar o médium que incorporou o pai de todos os emos: a pessoa havia "apenas" confundido os nomes, trocando Elton John por John Lennon. Foi devidamente perdoada.


Se após tudo isso, a história de um grupo de exploradores (ou extrativistas, ou ainda uma equipe de produção de cinema) que chega a uma ilha, se depara com um gorila gigante, que por sua vez se apaixona por uma loira integrante do grupo, que por sua vez fora capturada por nativos e oferecida ao tal gorila, que por sua vez é considerado uma divindade pelos tais nativos e acaba sendo capturado e levado a Nova York, que por sua vez é parcialmente destruída até o animal ser morto, é novidade para você, vou passar a considerar até títulos de filmes spoilers.

A intenção dessa sequência de posts é comparar as três versões de King Kong (a original, de 1933, e os remakes, de 1976 e 2005) baseadas na história original, desconsiderando spin-offs (alguns interessantes) e sequências (fracas). Nesse primeiro texto, abordarei apenas o primeiro dos três filmes.


VERSÃO ORIGINAL (1933)


Considerada uma das maiores obras-primas da história do cinema, o filme que apresentou King Kong ao mundo é um espetáculo visual e sonoro, tendo se tornado referência no que diz respeito a efeitos especiais e aberto as portas de Hollywood para os filmes do gênero fantasia. É importante lembrar que quando Kong foi produzido, o cinema engatinhava e tudo era extremamente trabalhoso. Portanto, antes que alguém resmungue algo sobre o filme, é essencial que o entendamos a partir da época na qual foi produzido. Nos dias de hoje, julgar um filme rodado a quase oitenta anos, nos primórdios do cinema falado (em seu sexto ano, para ser mais preciso), no qual os efeitos especiais tinham que ser feitos puramente "no braço", parece ser fácil, mas se imaginarmos uma equipe de produção realizando uma obra desse nível sem auxílio algum de técnicas de computação gráfica, fica fácil concluir que essas pessoas realizaram o décimo-terceiro trabalho de Hércules em King Kong.




Idealizado por Merian C. Cooper e Edgar Wallace, a produção teve que superar alguns contratempos: como Wallace faleceu em 1932, pouco tempo após ter começado a trabalhar no roteiro, James Creelman e Ruth Rose foram contratados para terminar essa tarefa. Na direção, Cooper foi auxiliado por Ernest B. Shoedsack.

Resumo da história (com muitos spoilers, se é que eles existem): Carl Denham (Robert Armstrong) é um diretor de cinema que, pressionado para realizar um filme de sucesso, decide que a locação perfeita para rodá-lo é a lendária Ilha da Caveira (Skull Island), localizada a oeste da Indonésia. Ann Darrow (Fay Wray) é uma bela loira desempregada - vale lembrar que a história se passa durante a Grande Depressão, iniciada com a crise de 1929 - que realiza uma tentativa frustrada de roubar uma maçã para amenizar sua fome. Carl Denham paga pela maçã e oferece um jantar a Ann, propondo também que a linda mulher seja a atriz principal de seu filme. Ao chegarem em Skull Island, eles descobrem que o local é habitado por nativos, que têm sua aldeia protegida por uma enorme muralha. Enquanto assistem a um ritual dos nativos, Carl e sua equipe são descobertos.




 Impressionado com Ann, o chefe oferece seis de suas mulheres pela 'mulher dourada'. O capitão Englehorn, conhecedor do dialeto dos nativos, intermedia a conversa e recusa a oferta. Insatisfeitos com a recusa, os indígenas raptam Ann e a oferecem a Kong, o gorila gigante que vive na selva atrás da muralha. Apaixonado por Darrow, o gorila fica enfurecido quando ela é resgatada por John Driscoll (Bruce Cabot), tripulante do barco e outro apaixonado por Ann, perseguindo-os até a aldeia, invadindo-a e, em seguida, sendo capturado e levado no navio até Nova York. Lá Kong é apresentado por Carl Denham  em um teatro como 'a oitava maravilha do mundo'. Com a presença de Ann e assustado com os flashes dos fotógrafos, Kong se livra das correntes e promove o caos na cidade até ser abatido por aviões no topo do Empire State Building.




A animação de Kong foi inteiramente realizada com a técnica de stop-motion (a mesma utilizada nos famosos desenhos em que os personagens são bonecos de 'massinha' de modelar), que envolve o uso de fotografias dos modelos. Com vinte e quatro imagens por segundo de filmagem, quando rodadas em sequência, essas imagens geram a sensação de movimento. De modo grosseiro e guardadas as respectivas proporções, podemos comparar essa técnica com aquela muito comum de animar um boneco desenhado nas folhas de um bloquinho de papel. Quando soltas em sequência, temos a impressão de que o boneco está em movimento. 


Animar um boneco em um bloco de papel pode ser fácil, mas o mesmo não pode ser dito para um boneco de 40 centímetros de altura (com armação interna de metal e revestimento de pelo de coelho) que é o personagem principal de um filme de uma hora e meia de duração. O trabalho de animação de Kong foi extenuante e constituiu apenas parte do trabalho, já que a produção também incluiu um busto gigante de Kong, um braço (para as cenas nas quais Kong segura Ann) e um pé. Além disso, todos os outros monstros de Skull Island (diversas espécies de dinossauros) também foram animados com a técnica de stop-motion. O responsável pela animação foi Willis O'Brien, que ganhou enorme reconhecimento por seu trabalho e é citado, ainda nos dias de hoje, como um dos pais dos efeitos especiais na indústria cinematográfica. Para a mistura das cenas que envolvem Kong e os atores reais (filmadas em separado), foram utilizadas técnicas de recorte e colagem nos negativos de modo extremamente convincente.




Max Steiner, o criador da trilha sonora, conseguiu capturar as diversas nuances do filme e reproduzi-las nas músicas de fundo. Momentos de tensão, alívio, fuga, lutas e até a dança dos nativos foram brilhantemente acompanhados pela trilha sonora de Steiner. Com relação aos efeitos sonoros, assim como em todas as áreas da produção, tudo funciona muito bem. O rugido de Kong se assemelha ao de um grande felino. Para chegar a esse resultado, gravações de rugidos de leões e tigres foram trabalhadas (aceleradas, desaceleradas, rodadas ao contrário, etc.) à exaustão.




Além de toda a parte técnica da obra cinematográfica, a partir da fantasia, King Kong nos faz refletir sobre questões pertinentes de nossa realidade como a ambição desenfreada, a alteração desnecessária de habitat de um animal (inserindo-o em um ecossistema despreparado para recebê-lo), as tradições dos nativos (sacrifício humano para "acalmar" seu deus) e até um amor improvável. É um clássico sem prazo de validade, obrigatório para todos os apreciadores da sétima arte.


Abaixo segue o trailer do filme com boas amostras da excelente animação do macacão!




Há alguns anos, o filme foi devidamente restaurado e lançado em Blu-ray, com extras excelentes (comentários, um documentário maravilhoso e completo, entre outros). Fica a dica.


P.S.: Se for para ser muito chato e procurar um ponto negativo no filme, eu diria que são os gritos (agudíssimos) de Fay Wray :P